Empresas devem ser estratégicas para prevenir calotes

Por Michelle Nascimento Tachy Coelho*

A disseminação da pandemia de COVID-19 trouxe uma grande mudança na rotina das pessoas por todo o mundo, ocasionado grandes alterações e impactos em vários setores importantes, afetando drasticamente a economia e o mercado global.

A crise econômica instaurada no País elevou o desemprego e ocasionou o fechamento de inúmeras empresas e, ao que tudo indica, a próxima etapa será o aumento da inadimplência, pois, diante desse cenário, a demanda continua baixa e os custos se mantém altos para as empresas e para as famílias.

As pesquisas tradicionais apontam para a diminuição do endividamento no país, mas estes índices devem ser observados com muita cautela, pois não espelham a realidade que o Brasil enfrentará em 2021. Analisando a última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela CNC, de fato, há o registro de que os índices de inadimplência retrocederam. Segundo o relatório divulgado, “o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso caiu pelo sexto mês, alcançando 24,5% em fevereiro, ante 24,8% em janeiro. Apesar de estar 0,4 ponto percentual maior do que o apurado em fevereiro de 2020, a proporção é a menor registrada justamente desde fevereiro de 2020 (24,1%), anterior, portanto, à decretação da pandemia”. .

Contudo, não se pode deixar de pontuar que esse cenário aparentemente otimista se justifica pelo recebimento do auxílio emergencial, a realização dos programas de socorro às pequenas e microempresas e a renegociação de dívidas realizadas pelos bancos. Quando essas medidas emergenciais findarem e a economia começar a se movimentar sem esses auxílios, o temor é que haja uma explosão da inadimplência e, para tanto é preciso ser bastante estratégico ao se preparar para prevenir os calotes.

Considerando tais perspectivas, a tomada de atitude e o planejamento são medidas essenciais para o empresário, especialmente no que tange à recuperação de crédito, até porque este é um setor que influencia direta e sensivelmente os resultados financeiros das empresas, inclusive, na disponibilidade de ativos para desenvolver o seu negócio.

A primeira coisa que se precisa ter em mente é que os procedimentos para a efetiva recuperação de um crédito vão além de uma simples cobrança por contato telefônico. Se utilizadas as ferramentas e estratégias adequadas, no ato da compra, ou da realização do serviço, já se pode ter informações suficientes para o mapeamento de perfil do cliente e assim, havendo a inadimplência, já se estabeleçam as estratégias de cobranças pertinentes, tornando-se mais célere e assertivo na recuperação do crédito.

Desde ferramentas tecnológicas para o cadastro e obtenções de informações, até a definição da linha de cobrança, considerando o perfil de cada cliente, é possível identificar as soluções que mais se adequam a cada situação. Com isso, aproveitando-se da tecnologia existente e de pessoas especializadas, as operações de recuperação trazem resultados diferenciados.

A inadimplência é um problema que exige bastante atenção do empreendedor e, considerando a eficácia natural das medidas preventivas, não há dúvidas de que o processo de cobrança e recuperação de crédito é algo necessário para a manutenção da receita da empresa e a consequente saúde do seu fluxo de caixa. A renovação das estratégias de recuperação, ajustando as métricas de cobrança e revisando os parâmetros de transação, são fundamentais neste momento de crise para que as empresas possam garantir a manutenção dos ativos e até aumentar o faturamento.

Com o atual cenário econômico instável, a atenção à inadimplência precisa ser redobrada e as medidas de ação precisam ser estrategicamente pensadas pelo empreendedor, sendo sempre valioso o apoio daqueles que possuem expertise no assunto. Realizar boas práticas de negociação, agir com prudência e paciência diante de um impasse contratual e realizar acordos visando a divisão das vantagens e prejuízos, são medidas fundamentais para a continuidade das relações e restabelecimento do equilíbrio econômico não somente do empresariado, mas de toda a sociedade.

*Graduada em Direito pelo Centro Universitário Jorge Amado e Pós-graduada em Direito do Estado pelo Instituto de Excelência Ltda – JusPodivm. Sócia do Coelho & Tachy Advogados.